Atividade física durante a pandemia de Covid-19 : interfaces com a saúde física, qualidade do sono e autoavaliação de saúde.
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2024
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Resumo
Introdução: As evidências científicas produzidas em relação à atividade física (AF) são
consideráveis e o aumento exponencial nos últimos anos forneceu informações congruentes no
que concerne à sua importância e benefícios à saúde. Uma rotina regular de AF tem sido
associada a uma melhor saúde física, como controle da homeostase glicídica e lipídica, bem
como com uma melhor qualidade do sono e autoavaliação de saúde (AAS). Contudo, a
pandemia da Covid-19 influenciou drasticamente a prática de AF. Objetivo: Avaliar os fatores
associados à inatividade física (IF em residentes da região dos Inconfidentes, Minas Gerais,
durante a pandemia da Covid-19. Métodos: Estudo transversal de base populacional em
adultos, realizado de outubro a dezembro de 2020, em dois municípios brasileiros (Ouro Preto
e Mariana). Foram coletados 1762 indivíduos, por meio de entrevista face a face, utilizando um
questionário estruturado em formato eletrônico com questões sociodemográficas, hábitos de
vida e condições de saúde. Foram conduzidas coletas de sangue para avaliação dos níveis
séricos de lipoproteínas e concentração plasmática de hemoglobina glicada. A prática de AF foi
avaliada por autorrelato, por questão adaptada do estudo "Vigilância de fatores de risco e
proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico “(VIGITEL)". A AF foi classificada
como fisicamente ativos ou inativos, de acordo com as recomendações da Organização Mundial
da Saúde (OMS). A qualidade do sono foi medida pelo Índice de Qualidade do Sono de
Pittsburgh (IQSP). A AAS foi avaliada por meio da pergunta: “Como você classificaria seu
estado de saúde?” As respostas foram agrupadas em AAS negativa (regular, ruim ou muito
ruim) e AAS positiva (muito bom ou bom). Além disso, foram mensurados os níveis séricos de
lipoproteína de alta densidade (HDL-c) e o colesterol total (CT), usando o método enzimático
colorimétrico. As concentrações plasmáticas de hemoglobina glicada (HbA1c) foram avaliadas
por meio do método imunoturbidimetria. Resultados: Os resultados serão apresentados em
cinco artigos. No artigo I observou-se que a prevalência da IF foi mais elevada nos primeiros
meses (março a julho/2020) da pandemia (M1) (67,3%), em comparação com os meses de
outubro a dezembro de 2020 (M2) (58,7%) e no período anterior ao início da pandemia (M0)
(39,7%). Indivíduos com sobrepeso, obesidade e baixo nível de escolaridade apresentaram
maior probabilidade de serem fisicamente inativos. No artigo II, 51,9% apresentavam má
qualidade de sono e 79,8% não estavam em trabalho a partir de casa (home office). A IF
associou-se à má qualidade do sono (OR: 1,73; IC95%: 1,07-2,79) e ausência de home office
(OR: 1,86; IC95%: 1,08-3,23). Na análise combinada, os indivíduos com qualidade de sono
ruim e que não estavam em home office tinham uma chance 4,19 vezes maior de serem inativos
fisicamente (OR: 4,19; IC 95%: 1,95-8,95). Referente ao artigo III, 7,1% dos participantes apresentaram níveis elevados de hemoglobina glicada (HbA1c). A análise de mediação revelou
que a IF aumentava em 2,62 vezes (OR:2,62, IC95%:1,29-5,33) a probabilidade de níveis
elevados de HbA1c, sendo que 26,87% desse efeito foi mediado pelo excesso de peso (OR:1,30;
IC95%:1,06-1,57). O artigo IV apresentou prevalência de risco cardiovascular (RCV)
intermediário a alto de 43,8% dos participantes e 56,0% estavam com excesso de peso. Na
análise de mediação para o excesso de peso, constatou-se que os indivíduos fisicamente inativos
apresentavam 1,90 vezes mais chance (OR: 1,90; IC95%; 1,14-3,17) de ter RCV intermediário
a alto, sendo que 17,18% desse efeito foi mediado pelo excesso de peso (OR: 1,11; IC95%;
1,02-1,25). No artigo V, a prevalência de AAS negativa foi de 23,0% dos participantes e 15,5%
tinham comportamento sedentário (CS) ≥ 9 horas. O modelo multivariado identificou
associações entre IF e AAS negativa (OR: 1,72; IC95%: 1,01-2,93), mas não para CS. A análise
de simultaneidade revelou que os indivíduos afetados por um destes comportamentos de risco
à saúde tinham 1,84 vezes mais probabilidade de apresentar AAS negativa (OR: 1,84; IC95%:
1,06-3,22). Aqueles com dois comportamentos de risco à saúde tinham 2,12 vezes mais
probabilidade de ter AAS negativa (OR: 2,12; IC95%: 1,03-4,39). Na análise conjunta, os que
relataram ser fisicamente inativos e apresentarem CS ≥ 9 horas tiveram uma prevalência 2,15
vezes maior de AAS negativa (OR: 2,15; IC95%: 1,01-4,56). Conclusão: Este estudo revelou
uma elevada prevalência de IF durante a pandemia da Covid-19. Além disso, evidenciou
associação entre a IF e marcadores bioquímicos, como alterações nos níveis de hemoglobina
glicada, e maior prevalência de RCV. Adicionalmente, a IF e o CS, em análise conjunta e
simultânea mostraram associação com a AAS negativa. Por fim, a má qualidade do sono e não
estar em home office foram associados a IF. Este estudo ressalta a importância de um
comprometimento efetivo por parte dos fomentadores de políticas públicas, governantes,
profissionais de saúde e pesquisadores para estabelecer medidas que incentivem e facilitem a
adoção de estilos de vida mais ativos, com benefícios inquestionáveis para a saúde e o bem-
estar da população.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Saúde e Nutrição. Escola de Nutrição, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Atividade física, Covid-19, Qualidade do sono, Risco cardiovascular, Hemoglobinas glicadas
Citação
MOURA, Samara Silva de. Atividade física durante a pandemia de Covid-19: interfaces com a saúde física, qualidade do sono e autoavaliação de saúde. 2024. 278 f. Tese (Doutorado em Saúde e Nutrição) - Escola de Nutrição, Universidade Federal de Ouro Preto, Escola de Nutrição, Ouro Preto, 2024.