Análise multicritério espacial como ferramenta para avaliação de projeto de restauração florestal realizado nos municípios de Mariana/MG e Barra Longa/MG, afetados pelo rompimento da barragem de Fundão.

Abstract

Quase oito anos após o rompimento da barragem de Fundão, que impactou a bacia do rio Doce desde a jusante da barragem em Mariana, MG, até foz do rio Doce no oceano Atlântico, o balanço do sucesso das ações de restauração florestal nas áreas atingidas pelo rejeito e, principalmente, a compreensão das relações de causa e efeito demandam urgente atenção. Os resultados de estudos dessa natureza podem auxiliar os tomadores de decisões, aumentando substancialmente o sucesso da restauração assim como as razões de custo-benefício. Embora as ações desenvolvidas até 2021 pela Fundação Renova tenham resultado em taxas satisfatórias de mortalidade de mudas (média geral de 45%), especialmente ao se considerar o ineditismo das condições físicas, químicas e biológicas do tecnossolo, a experiência adquirida demonstra ausência de padrão geral explicativo da variação do grau de sucesso da restauração ao longo da bacia. Dada a complexidade de fatores que interferem no estabelecimento e crescimento das mudas, fatores esses que variam sensivelmente no tempo e no espaço na extensa região foco desse estudo, a análise multicritério (AMC) foi testada como ferramenta de identificação de padrões explicativos da mortalidade. O estudo abordou as atividades de restauração florestal realizadas em 65 propriedades rurais impactadas por rejeito, situadas nos municípios de Mariana e Barra Longa, em unidades de trabalho, onde foi realizado o plantio direto de mudas nativas. Vinte e quatro parâmetros iniciais foram utilizados para parametrizar o modelo e gerar seis mapas de parâmetros intermediários (Clima, Características físicas, Características químicas, Manejo, Vegetação e Fatores antrópicos). Uma análise discriminante auxiliou na ponderação de cada conjunto de parâmetros para a construção do mapa final, que foi confrontado com o mapa de mortalidade. Refletindo a experiência adquirida pelos gestores do programa de restauração, o mapa final não foi capaz de encontrar um padrão geral explicativo para o sucesso/insucesso da restauração florestal ao longo de toda a extensão geográfica em estudo. Por outro lado, a análise de agrupamentos de propriedades por tipologias e região (Mariana CNPJ-mais próximas da barragem, Mariana CPF e Barra Longa, mais distante da barragem) revelou que conjuntos distintos de parâmetros iniciais demonstraram maior relação de causa e efeito com as taxas de mortalidades das mudas. Em Mariana-CNPJ fatores como as altas espessura do rejeito e declividade, inadequada época de plantio, baixa concentração de P e de bases, menor número de dias chuvosos e a alta incidência de gado parecem exercer efeito mais relevante sobre a mortalidade das mudas. Em Barra Longa (35 km abaixo), por outro lado, os terrenos mais planos, solos menos porosos e a morfologia do rio, somados à maior precipitação, inclusive de chuvas que resultaram em eventos de inundação, e à localização das faixas de APP, explicaram melhor a mortalidade. Os resultados indicam que em estudos em grandes dimensões geográficas, a AMC deve ser realizada de maneira regionalizada, refletindo a heterogeneidade ambiental e a variação dos parâmetros de estudo. Estes devem ser ponderados de acordo com as características de cada região, evitando-se a diluição de seus efeitos ao se considerar toda a área de estudo como homogênea. Os resultados aqui apresentados sugerem que as ações diferentes sejam tomadas em cada região no sentido de aumentar a eficácia dos projetos de restauração florestal na bacia do rio Doce.