Prospecção funcional e potencial biotecnológico de bactérias associadas a anuros do Quadrilátero Ferrífero.

Abstract

A contaminação por metais e metaloides tóxicos, natural ou mediada por ação antrópica, tem se tornado um grave problema ambiental, acarretando danos a diversos seres vivos, em especial ao homem. Porém, alguns organismos presentes em distintos níveis tróficos são mais sensíveis a estes contaminantes, e um bom exemplo disso são os anfíbios. Por apresentarem tecido epitelial altamente permeável sofrem mais pela ação destes compostos, o que os colocam, na maioria das vezes, como potenciais bioindicadores de contaminantes. O presente trabalho teve como objetivos prospectar bactérias da pele de anfíbios anuros capazes de tolerar ao arsênio, bem como investigar possíveis relações desta tolerância como mecanismos práticos de aplicação biotecnológica. Para isso, duas investigações paralelas foram conduzidas. Num primeiro momento, isolados bacterianos advindos exclusivamente de anuros de um ambiente contaminado por metais pesados (Estação Ecológica do Tripuí - Ouro Preto, MG) foram avaliados. Para esta abordagem ficou constatado que espécies que possuiam íntimas associações com a água durante seu ciclo reprodutivo apresentam microbiota cultivável mais tolerante e ao mesmo tempo com maior potencial de produção de biofilme, contrapondo-se a microbiota advinda de animais que apresentam menor contato com a água. Considerando que os ambientes aquáticos em áreas contaminadas possuem maior disponibilidade para contato com os organismos vivos, tais resultados são indicativos que tal tolerância e adaptação fisiológica podem contribuir fortemente para a manutenção da sobrevivência da espécie anura quando em contato com estes ambientes no Quadrilátero Ferrífero (QF). Em um segundo momento, a microbiota cultivável associada a cinco espécies da região do QF foi comparada com a microbiota cultivável associada às mesmas espécies, porém advindas de um ambiente não contaminado, localizado a 320 km de distância do primeiro, no Município de João Neiva, ES. Os resultados evidenciaram que a microbiota proveniente das espécies do QF apresentam uma maior tolerância ao arsênio e foram capazes de proteger os anuros da permeabilidade deste metalóide, o que nao foi observado na microbiota advinda das espécies de ambiente não contaminado. Tais dados são indicativos da contribuição desta microbota na manutenção da sobrevivência dos anuros, reiterando os dados apresentados pela primeira abordagem. Como conclusão, os resultados auxiliaram a melhor compreensão desse modelo de interação, bem como classificam potenciais isolados com aplicações biotecnológicas que podem ser melhor exploradas quanto aos possíveis mecanismos moleculares associados a esta notória tolerância.