Estudo ecológico de Metania spinata (Porifera) na Lagoa Verde, Minas Gerais, Brasil, e análise isotópica de oxigênio em espículas, visando interpretação paleoambiental.
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Data
2015
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Resumo
Esponjas de água doce (Porifera, Demospongiae) são produtoras de estruturas de biosílica
denominadas espículas, com extraordinário valor taxonômico, e que podem apresentar-se em mais de
uma categoria, conforme a espécie, tendo reconhecida utilização como marcadores ambientais. As
populações dessas esponjas vivem em condições ambientais específicas e mudanças nestes ambientes
provocam respostas que se traduzem na produção das diferentes categorias de espículas. As espículas
são depositadas e preservam-se no sedimento de ambiente límnico após a morte da esponja. Quando
há grandes concentrações de espículas no sedimento, estes constituem espongilitos. Os depósitos de
espongilitos no noroeste de Minas Gerais (Brasil) são extensos, ocorrendo em aproximadamente 80
lagoas circulares ou semicirculares, e ocupam uma área de cerca de 45 Km2. Os espongilitos
representam recurso mineral importante na indústria cerâmica. O processo de formação dos
espongilitos dessa região ocorre há pelo menos 28 mil anos, havendo ainda hoje populações de
esponjas que continuamente contribuem para os depósitos de espículas. Para compreender a formação
dos depósitos, é necessário estudar o ciclo de vida dos organismos que os formam. O conhecimento
ecológico relacionado às esponjas, bem como a caracterização das diferentes espículas e a sua relação
com o ambiente em que se formaram, trazem informações fundamentais sobre as condições
paleoambientais de deposição dos sedimentos formadores de espongilitos. Tais informações podem
indicar se havia disponibilidade constante de água, ou se ocorriam eventos de estiagem. Biosílicas de
diatomáceas e fitólitos têm sido intensamente estudadas através de técnicas de análises de isótopos de
oxigênio, que mostram uma relação termodependente com o valor de sua composição isotópica menos
o valor da composição isotópica da água em que se formou. Estas técnicas permitem determinar as
condições térmicas durante a formação dos depósitos no passado através das biosílicas sedimentadas.
Neste sentido, testar a técnica de análise de isótopos de oxigênio em sílica biogênica de esponjas visa à
sua validação como marcadora da paleotemperatura se o fracionamento isotópico em espículas ocorre
em equilíbrio com a água da sua formação. A Lagoa Verde, no noroeste de Minas Gerais onde a
espécie Metania spinata (Carter, 1881) ocorre atualmente em abundância, foi selecionada para este
trabalho, sendo esta espécie a que mais contribuiu para a formação dos depósitos de espongilitos.
Tanto os estudos ecológicos da esponja nesta região, como as técnicas de isótopos de oxigênio,
tiveram por objetivo contribuir para a interpretação paleoambiental durante a formação dos
espongilitos. O estudo ecológico de M. spinata, que produz quatro categorias de espículas ao longo do
seu ciclo biológico (megascleras alfa e beta, microscleras e gemoscleras) determinou a época de
eclosão das gêmulas, o desenvolvimento dos espécimes, a formação das gêmulas e a morte sazonal das
esponjas. À partir de um dado momento do ciclo de vida, as esponjas amostradas apresentaram uma sequencia temporal de síntese de diferentes categorias de espículas, relacionadas com a precipitação de
chuvas, concentração de silício, nível d’água da lagoa, temperatura d’água e balanço entre a entrada e
saída de água no sistema calculada de forma indireta (precipitação – evapotranspiração). As diferentes
funções de cada espícula colaboram com as paleointerpretações onde há sedimentos com diferentes
composições espiculares. Os testes de análise isotópica de oxigênio nas espículas das esponjas
apresentaram resultado inverso (+0,3‰/ºC) aos estabelecidos para diatomáceas e fitólitos (-0,2 a -
0,4‰/ºC). O resultado sugere um fracionamento cinético, de causa biológica. Entretanto, a relação
entre a composição isotópica das espículas com a composição isotópica da água do momento da
amostragem é diretamente proporcional e incita atenção (R2=0,8, p<0,01). Novos testes se fazem
necessários para compreender se após a morte da esponja e consequente depósito das espículas, estas
podem sofrer alterações isotópicas com o meio, ou se a assinatura isotópica das espículas é
proporcionalmente fiel à composição isotópica da água enquanto houver atividade fisiológica da
esponja e, portanto, dependente da ação de enzimas específicas da síntese (silicateína) e
remodelamento (silicase) da biosílica.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais. Departamento de Geologia. Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Geologia ambiental, Sedimentação, Geologia estratigráfica, Valores de background
Citação
MATTEUZZO, Marcela Camargo. Estudo ecológico de Metania spinata (Porifera) na Lagoa Verde, Minas Gerais, Brasil, e análise isotópica de oxigênio em espículas, visando interpretação paleoambiental. 2015. 155 f. Dissertação (Mestrado em Evolução Crustal e Recursos Naturais) – Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2015.