Efeitos da percepção visual de estímulos afiliativos na variabilidade da frequência cardíaca em humanos e a influência comportamental autorrelatada : uma abordagem evolucionista.
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2020
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Resumo
A socialidade é uma importante ocorrência na história evolutiva de muitas espécies, e os humanos são animais descritos como essencialmente sociais. No nível proximal de análise, vários estudos investigam como mecanismos neurais podem regular a socialidade. O sistema nervoso autônomo desempenha um papel fundamental no entendimento dessas relações, e sua atividade pode ser medida pela variabilidade da frequência cardíaca (VFC), uma ferramenta promissora no campo da psicofisiologia. O objetivo deste estudo foi investigar a influência da percepção visual de estímulos afiliativos na VFC e avaliar a influência de medidas comportamentais subjetivas autorrelatadas. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Ouro Preto (CAAE: 32885314.2.0000.5150). A amostra foi composta por 72 estudantes de graduação (44 mulheres e 28 homens) com idades entre 18 e 33 anos (M = 23,37, DP = 3,04). Os voluntários foram expostos a estímulos de afiliação (14 fotografias com pessoas em interação social direta, envolvendo pistas como toque e contato visual), pareados com estímulos controle (14 fotografias com pessoas sem interação social). Ambos os estímulos foram precedidos e sucedidos por um período de 3 minutos sem estímulo. O primeiro período sem estímulo foi considerado a linha de base. O sinal eletrocardiográfico foi registrado durante todo o experimento para análise posterior da VFC, a partir da qual foram extraídos os componentes do domínio do tempo (SDNN e RMSSD) e do domínio da frequência (HF e LF). Foi realizada uma avaliação psicométrica de alguns aspectos sociais do comportamento por meio de escalas de autorrelato validadas, especificamente foram avaliados a empatia, toque social e solidão. Os resultados mostraram que a percepção de estímulos afiliativos induziu mudanças fásicas na VFC (SDNN: p = 0,04; RMSSD: p = 0,007; HF: p = 0,022). Especificamente, a percepção desses estímulos provocou uma diminuição no SDNN (p = 0,01), RMSSD (p = 0,04) e HF (p = 0,045) quando comparados aos níveis basais. Nenhuma diferença significativa foi observada para o LF (p = 0,12). Após a exposição a esses estímulos, o RMSSD (p = 0,006) e HF (p = 0,03) não retornaram aos níveis basais. Em relação à percepção dos estímulos controle, nenhuma mudança fásica significativa foi detectada para o SDNN (p = 0,43), RMSSD (p = 0,11) e HF (p = 0,41). Uma diferença significativa foi detectada para o LF (p = 0,03), o qual diminuiu quando comparado aos níveis basais (p = 0,02). Comparou-se também as mudanças (Δ) percentuais da VFC em relação aos níveis basais em ambas as condições, controle e afiliativa. A percepção de estímulos afiliativos induziu uma maior diminuição no RMSSD em comparação ao controle (p = 0,003). Nenhuma diferença significativa foi detectada para SDNN (p = 0,90), HF (p = 0,50) e LF (p = 0,97). O toque social e a solidão não tiveram correlação significativa com mudanças basais ou fásicas na VFC durante a percepção de estímulos afiliativos (p> 0,01 para todas as correlações). A empatia não se correlacionou significativamente com a VFC basal (p> 0,01 para todas as correlações). Por outro lado, uma correlação significativa foi detectada entre a empatia e o ΔSDNN (p = 0,003). Uma análise de regressão linear (ΔVFC durante a percepção de estímulos afiliativos como variável dependente) mostrou que a empatia foi responsável por 12% da variação no ΔSDNN (p = 0,002). Esta relação foi descrita mais adequadamente com um modelo quadrático do tipo U invertido. Em conclusão, a percepção de estímulos afiliativos induziu reduções fásicas na VFC, sugerindo que a interação social com indivíduos desconhecidos não implica necessariamente em contextos de segurança necessários para um aumento da atividade vagal. A empatia foi a única medida subjetiva autorrelatada que influenciou as mudanças fásicas na VFC, as quais foram mais adequadamente explicadas por uma função do tipo U invertido, o que ressalta a necessidade de se considerar modelos não-lineares no estudo do comportamento humano. Por fim, este estudo está em concordância com os pressupostos que consideram a herança ancestral na evolução do comportamento humano, os quais preveem a presença de mecanismos cognitivos evoluídos subjacentes à regulação de processos sociais.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas. Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas, Pró-Reitoria de Pesquisa de Pós Graduação, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Comportamento social, Variabilidade do batimento cardíaco, Empatia, Solidão
Citação
ARAÚJO, Cássia Regina Vieira. Efeitos da percepção visual de estímulos afiliativos na variabilidade da frequência cardíaca em humanos e a influência comportamental autorrelatada: uma abordagem evolucionista. 2020. 121 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) - Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2020.