Do luto à luta : sentidos do patrimônio histórico-natural de Barra Longa (1938-2021).

Abstract

A presente pesquisa aborda os significados patrimoniais atribuídos a três configurações histórico-naturais de Barra Longa desde a constituição político-administrativa deste município, em 1938, até a atualidade: o Caminho de São José, o Encontro dos rios Carmo e Gualaxo do Norte e a sede urbana. Em termos teóricos, a pesquisa dialoga sobretudo com o conceito de ambiente (no entrecruzamento do meio natural e das dimensões histórico-culturais), provindo da História Ambiental. No tocante à metodologia, coteja os diferentes sentidos de patrimônio, atribuídos às três configurações histórico-naturais acima mencionadas, com um tríplice imaginário operante na cultura ocidental, e que incide de forma singularizada na localidade de Barra Longa: o religioso/cosmológico, o ecológico (com fortes inspirações românticas) e o modernizante. Não obstante, essa tríade imaginária interpenetra-se na apreciação de cada uma dessas configurações históriconaturais por moradores, visitantes e turistas. No concernente às fontes, foram produzidos/investigados dois grupos documentais principais: entrevistas com moradores de Barra Longa e reportagens de periódicos. Em conclusão, é postulado que esses três imaginários, incidindo sobre as distintas configurações histórico-naturais de Barra Longa, configuraram uma concepção patrimonial em que a atuação humana se mostra, em ampla medida, indissociável das manifestações não humanas. Contudo, tal enlace pode apresentar-se, paradoxalmente, tanto sob conotações de desalento patrimonial, sobretudo após a queda da Barragem de Fundão, como assumir aspectos de mobilização esperançosa pela constituição de um patrimônio mais ecossustentável e perpassado por relações sociais mais igualitárias. Por fim, deseja-se que a presente dissertação consiga contribuir, ainda que modestamente, para um reavivamento dessa esperança e de tal implicação dos barra-longuenses com as configurações histórico-naturais de sua cidade, propiciando uma transposição do luto e da dor em novas e revigorantes experiências e sentidos atribuídos ao patrimônio e às vivências locais.