Evolução do Grupo Macaúbas e Formação Salinas no Orógeno Araçuaí Central, MG.
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2019
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Resumo
O Cráton São Francisco, juntamente com a sua contraparte africana, o Cráton do Congo,
representa uma parte interna e estável de um dos paleocontinentes envolvidos na montagem
de Gondwana Ocidental, no período Neoproterozoico. O Paleocontinente São FranciscoCongo experimentou vários eventos de rifteamento desde o Estateriano (ca. 1750 Ma) até o
Criogeniano (ca. 700 Ma). Registros de magmatismo anorogênico e/ou sedimentação
associada a esses eventos foram encontrados no sistema orogênico Neoproterozoico AraçuaíCongo Ocidental (AWCO), localizado entre os crátons São Francisco (leste do Brasil) e
Congo (África central). Após os eventos de rifteamento Paleo-Mesoproterozoicos, eventos
extensionais Tonianos e Criogenianos formaram a Bacia Macaúbas, precursora do AWCO,
que registra uma série de eventos de rifteamentos, iniciados no Toniano com um rifte
continental (ca. 957-875 Ma), preenchido pelas formações Capelinha (redefinida e descrita
detalhadamente nesta tese), Matão, Duas Barras e Rio Peixe Bravo, atribuídas ao Grupo
Macaúbas inferior (ou pré-diamictitos). Com base em estudos de campo detalhados, dados
litoquímicos, geocronologia U-Pb em grãos de zircão e titanita e análises isotópicas de Nd em
rocha total, a Formação Capelinha foi caracterizada como uma sucessão vulcano-sedimentar,
agora atribuída à base do Grupo Macaúbas e datada em 957 ± 14 Ma (cristalização
magmática) e 576 ± 13 Ma (metamorfismo). Os dados geoquímicos do orto-anfibolito da
unidade basal da Formação Capelinha sugerem protólito toleítico relacionado a um cenário de
rifteamento continental. As rochas metassedimentares mostram um amplo espectro de idades
de zircões detríticos do início do Toniano (ca. 940 Ma) com valores negativos de ƐHf. O pico
mais jovem (949 ± 12 Ma) limita a idade de sedimentação no mesmo tempo do magmatismo
basáltico representado pelo orto-anfibolito. A sucessão vulcano-sedimentar da Formação
Capelinha se correlaciona em idade e origem com outras unidades anorogênicas encontradas
em uma grande região coberta pelo AWCO e pelos cratons adjacentes. Adicionalmente, o
magmatismo de Capelinha parece preceder em cerca de 20-30 Ma o pico principal (930-900
Ma) deste magmatismo anorogênico, sugerindo um sistema de riftes complexo e duradouro.
Contrastando com o rifte abortado do início do Toniano, o rifte Criogeniano evoluiu para uma
margem passiva (ca. 725-675 Ma) e espalhamento oceânico (ca. de 650 Ma). O rifte
continental Criogeniano culminou na deposição das formações Serra do Catuni, Nova Aurora
e Chapada Acauã proximal (ocidental) do Grupo Macaúbas superior (rico em diamictitos). As
formações Chapada Acauã distal (descrita detalhadamente nesta tese) e Ribeirão da Folha do
Grupo Macaúbas Superior, compreendem a sedimentação de margem passiva a oceânica,
sendo que a Formação Ribeirão da Folha inclui rochas máficas e ultramáficas em sua
sucessão. Durante o Ediacarano, o setor ensiálico da Bacia Macaúbas começou a ser invertido
e a maior parte de seu segmento oceânico já havia sido consumida sob o Arco Magmático Rio
Doce (630-580 Ma). O golfo Macaúbas foi então convertido na Bacia Salinas (ca. 550 Ma),
preenchida pela Formação homônima. Descrições detalhadas de litofácies, juntamente com
um estudo isotópico detalhado de grãos de zircão detrítico (U-P e Lu-Hf) e análises isotópicas
de δ
13C e δ
18O, fornecem novas interpretações sobre as formações Chapada Acauã e Salinas.
A Formação Chapada Acauã Inferior inclui associações de fácies ricas em diamictitos
depositadas por fluxos de massa e correntes de turbidez em contexto glaciomarinho. A
Formação Chapada Acauã Superior foi depositada em ambiente marinho distal, parcialmente
sob ação de descargas de icebergs e compreende pelitos com dropstones, arenitos, e lentes de
carbonato (o δ13C corrobora o sinal original da água do mar). A Formação Salinas mostra uma
sucessão monótona de turbiditos. As idades U-Pb em grãos de zircão detrítico indicam que a
Formação Chapada Acauã foi depositada entre o final do Toniano e o início do Criogeniano
(ca. 750-667 Ma), e uma idade máxima de sedimentação para a Formação Salinas de ca. 550
Ma. Espectros de idade de grãos de zircão para a unidade inferior da Formação Chapada
Acauã revelam contribuição massiva de fontes juvenis e recicladas de idade RiacianaOrosiriana (ƐHf = +14,64 a -18,53). Apesar de possuir um conjunto de dados semelhante, a
unidade superior da Formação Chapada Acauã mostra picos proeminentes de idade
Criogeniana (ca. 715 Ma) e Mesoproterozoicas. Em contraste, a Formação Salinas revelou
picos de idade em 670-551 Ma, com valores de ƐHf entre +6,29 e -18,25, atestando uma
contribuição massiva do Arco Magmático Rio Doce (630-580 Ma). Os dados apresentados
nesta tese sugerem uma idade Criogeniana para a Formação Chapada Acauã, em contraste
com a sedimentação orogênica da Formação Salinas, de idade Ediacarana, sugerindo uma
importante mudança de proveniência sedimentar. Os dados apresentados, também fornecem
novas restrições de tempo para um evento glacial severo registrado pelo Grupo Macaúbas. O
intervalo de idade Criogeniana também corresponde ao evento magmático anorogênico de
720-670 Ma que inclui a Província Alcalina do Sul da Bahia, as formações Lower Diamictite
e Louila, entre outras evidências encontradas no AWCO e no Cráton São Francisco-Congo.
Regionalmente, a Orogênese Brasiliana imprimiu um regime metamórfico tipo Barroviano
nas rochas do Grupo Macaúbas e da Formação Salinas ao longo da porção centro-norte do
Orógeno Araçuaí. As granadas dessas unidades foram cristalizadas durante o estágio
colisional do Orógeno Araçuaí, que formou a foliação regional em torno de 570 Ma. Os
valores de PT calculados para bordas e núcleos de granadas, revelaram curvas de trajetória no
sentido horário com temperaturas crescentes da zona da granada (500-570ºC) para a zona da
estaurolita (520-580ºC) e pressões de 4,1-5,7 kbar (zona da granada) a 3,5-5,6 kbar (zona
estaurolita). A datação Th-U-Pb de grãos de monazita por microssonda eletrônica (EMPA)
revelou idades de recristalização de 520 Ma e ca. 490-480 Ma. Estas idades são interpretadas
como registro de um evento generalizado de produção de fluidos, datado em ca. 520-480 Ma,
que ocorreu durante a fase de colapso extensional do Orógeno Araçuaí. O objetivo principal
dessa tese é fornecer novas interpretações acerca da idade, proveniência e configuração
tectônica dos eventos extensionais Toniano e Criogeniano que afetaram a Bacia Macaúbas no
Neoproterozoico, aqui representados pelas formações Capelinha e Chapada Acauã. Além
disso, esta tese fornece novas restrições de tempo para um evento glacial registrado pelas
rochas do Grupo Macaúbas, interpretações de diferentes processos de sedimentação em
ambiente glaciomarinho, além de revelar proveniências sedimentares contrastantes entre as
bacias Macaúbas e Salinas. Adicionalmente, as idades químicas Th-U-Pb (CHIME) obtidas
em grãos de monazita em conjunto com as trajetórias P-T-t obtidas para os xistos granatíferos
das formações Capelinha e Salinas, restringem ainda mais o tempo de evolução do Orógeno
Araçuaí.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais. Departamento de Geologia, Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Sedimentação e depósitos, Bacias sedimentares, Orógeno Araçuaí - MG, Geocronologia, Geotermobarometria
Citação
CASTRO, Marco Paulo de. Evolução do Grupo Macaúbas e Formação Salinas no Orógeno Araçuaí Central, MG. 2019. 180 f. Tese (Doutorado em Evolução Crustal e Recursos Naturais) – Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2019.