A sucessão na agricultura familiar em São Gonçalo do Rio Abaixo-MG a partir da vivência/percepção dos agricultores e possíveis sucessores.

Abstract

O processo de sucessão na agricultura familiar é tema preocupante para o futuro da produção de alimentos no Brasil. A sucessão rural é elemento significativo para os formuladores de políticas públicas, considerando a evidência desse processo na influência sobre o comportamento e a tomada de decisão dos agricultores em permanecer no campo. A ausência do sucessor implica em consequências drásticas em aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais e não apenas familiar. Sendo assim, o objetivo dessa pesquisa é conhecer a vivência e/ou percepção dos agricultores e possíveis sucessores da agricultura familiar do município de São Gonçalo do Rio Abaixo sobre a sucessão no meio rural A falta de interesse dos jovens em assumir a sucessão na agricultura familiar pode estar relacionada à ausência de políticas públicas destinadas aos sucessores. A pesquisa teve abordagem qualitativa, com realização de entrevista semiestruturada, utilizando-se uma pergunta disparadora, mediada pelos objetivos. O número de entrevistados foi definido pelo processo de saturação. A análise das falas se deu à luz da fenomenologia sociológica, pautada em Alfred Schultz, cujos conceitos são norteadores do estudo em questão, vivência e percepção. Foram realizadas 30 entrevistas, sendo 18 agricultores e 12 sucessores. A pesquisa revelou uma semelhança dos impasses da vida no campo entre agricultores e sucessores. A percepção/vivência desses atores é de um trabalho árduo, injurioso e rotineiro, que aliado a uma renda baixa, torna-se um caminho pouco atraente a ser seguido. Com essa visão, o produtor conformou-se em sobreviver em uma vida limitada. Para os possíveis sucessores, a baixa renda é estímulo para o êxodo de uma vida vazia e estagnada. Foram identificados várias políticas e programas de apoio ao agricultor, que uma vez elaboradas sem a participação desses atores, são desconhecidas ou pouco vivenciadas por eles. Dessa forma, houve uma modificação da hipótese desse estudo. A não sucessão no campo, além de impactar os aspectos econômicos e sociais do país, pode provocar a violação do direito humano à alimentação adequada e colocar em risco a segurança alimentar e nutricional do povo brasileiro.