Produção escrita de alunos surdos e consciência morfológica.

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Data
2022
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Resumo
O conteúdo desta tese busca refletir, discutir e apresentar propostas de trabalho com a morfologia verbal, com o intuito de colaborar com a discussão sobre a importância da consciência morfológica do estudante surdo para o aprimoramento de sua escrita. Com a finalidade de identificar as principais dificuldades na escrita dos verbos, analisamos textos produzidos por 17 surdos profundos, matriculados no Ensino Fundamental II, de escolas da rede pública do estado de Minas Gerais. Realizamos uma análise quali e quantitativa dos dados. As principais dificuldades identificadas na escrita dos verbos foram: (1) erros de flexão verbal; (2) locução verbal; (3) ausência de verbos; e (4) uso inadequado de verbo. Após identificação de tais desvios, hipotetizamos que eles advém principalmente (1) da forma como os surdos percebem e processam a língua portuguesa (LP), sendo fundamentalmente visual, sem o suporte de um léxico fonológico que lhes auxilie no momento da escrita; (2) do desconhecimento ou pouco domínio do vocabulário e de aspectos da LP relacionados à flexão verbal; e (3) da transferência de conhecimentos da Libras como primeira língua (L1) para a escrita da língua portuguesa como segunda língua (L2). Pensamos, assim, na necessidade de se contemplar a consciência morfológica, considerando a Libras e com respaldo de recursos visuais. Baseando-nos nos erros mais recorrentes, os quais foram apresentados no corpus desta tese, elaboramos propostas de práticas em seis unidades que contemplam os temas: (1) Pessoas do Verbo e Referenciação no Discurso; (2) Verbos no Infinitivo; (3) Verbos no Presente; (4) Verbos no Passado; (5) Locuções Verbais, e (6) Verbos Irregulares. Pautamos nossas propostas na teoria de base estatística da Integração de Múltiplos Padrões – IMP (TREIMAN, 2018) – que postula que o aprendizado da escrita leva em conta a frequência de eventos, suas combinações e as circunstâncias em que ocorrem, desenvolvendo uma espécie de “estatística mental”, e, na perspectiva do letramento visual, na qual o ensino de aspectos visuais da escrita é priorizada em prol da oralidade (GESUELI; MOURA, 2006; LEBEDEFF, 2010; TAVEIRA; ROSADO, 2013; FARIA-NASCIMENTO, et al., 2021). As práticas propostas procuraram guiar o aprendizado, de forma consciente e intencional (CLEEREMANS, 1993), com a apresentação de regras e de generalizações morfológicas, voltadas para o desenvolvimento de habilidades de consciência morfológica, com vistas a promover uma reflexão sobre os morfemas que compõem os verbos, aumentando a compreensão de vocabulário e, consequentemente, promovendo melhorias na ortografia (NUNES et al., 2010; TRUSSELL et al., 2017). Acreditamos que é fundamental que o aprendiz surdo seja inserido em práticas de ensino significativas, com o uso de estratégias que direcionem sua atenção para detalhes de formas linguísticas, presentes na L2, em especial, para aquelas formas que não foram adquiridas por falta de um input auditivo. Apontamos ainda que há necessidade de melhor conhecimento da escrita do surdo para que atividades específicas e direcionadas possam ser produzidas com vistas a auxilia-los neste processo de apropriação da escrita da língua portuguesa tão importante para sua inserção social e acadêmica.
Descrição
Palavras-chave
Educação de surdos, Português como segunda língua, Consciência morfológica, Aprendizagem estatística, Letramento visual
Citação
TOFFOLO, Andreia Chagas Rocha. Produção escrita de alunos surdos e consciência morfológica. 2022. 291 f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2022.