A prática da benzedeira : memória e tradição oral em terras mineiras.

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Data
2018
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Resumo
Esta pesquisa se propõe a analisar as rezas de cura populares inseridas no contexto das práticas de benzeção nas cidades históricas de Mariana (MG), Ouro Preto (MG) e Serro (MG), considerando-se a tradição oral e o rito no processo de interação social, quando é estabelecido o diálogo com Deus, no intuito de obter-se a cura. Tais práticas são realizadas majoritariamente por mulheres, que são agentes sociais do seu meio e têm a oralidade como carro-chefe tanto durante o rito propriamente dito, quanto para o repasse e preservação dessa tradição às novas gerações. Nesse sentido, o estudo das manifestações da linguagem está intimamente ligado aos fenômenos sociais, históricos e culturais. Assim, como mencionado acima,o objetivo geral da pesquisa é compreender as rezas populares de cura, considerando-se a tradição oral e o rito no processo de interação social.Os objetivos específicos são: analisar o poder conferido às palavras proferidas pelas benzedeiras no ato das benzeções, descrever o processo interacional entre a benzedeira e o consulente e registrar aspectos da tradição oral, do percurso sociocultural e da memória linguística dos ritos de benzeção. Para tal, foram utilizados os pressupostos teóricos da teoria da Sociolinguística Interacional, de John Gumperz e Erving Goffman, que atenta para a fala e o contexto no qual as interações são produzidas, de modo a considerar os variados aspectos da fala, do diálogo (benzedeira e Deus / benzedeira e consulente) que se estabelece nessa interação, ou seja, no ato da benzeção, destacando-se a linguagem como uma prática social. Também percorremos outras áreas do conhecimento, como a Antropologia e a Sociologia, com o propósito de compreender a origem, a formação e a permanência dessas práticas questão atreladas à cultura, à religiosidade e à medicina populares, no intuito de compreender as relações interpessoais estabelecidas, as quais mantêm a tradição ainda atual.Para a coleta de dados foi adotada a perspectiva etnográfica, partindo do princípio da participação do pesquisador durante o trabalho de campo. Para tanto, foi aplicado um questionário a cada uma das doze interlocutoras durante entrevistas que foram registradas em gravações de áudio, tendo sido utilizado o diário de campo que traz as observações da pesquisadora. Os dados recolhidos permitiram a análise do perfil das benzedeiras e de seus consulentes e a partir deles foi constituído o corpus da pesquisa, que é composto por um total de 34 rezas analisadas do ponto de vista linguístico, simbólico e contextual. Este estudo contribui para o entendimento do papel da benzedeira enquanto agente social de seu meio e da importância da tradição oral como veículo de conservação das práticas de benzeção. Ademais, destaca-se a importância de ser usada uma abordagem interdisciplinar, a fim de se alcançar uma perspectiva mais abrangente sobre o complexo conjunto de elementos que formam essas práticas, além de se destacar os atores sociais que nelas interagem por meio da linguagem em sentido amplo (palavras, gestos, silêncios). Também se evidencia o caráter multifacetado e sincrético dessas práticas, uma vez que foram verificadas variações nas rezas, na condução do rito, no uso dos elementos simbólicos, assim como no perfil das benzedeiras, inclusive em uma mesma localidade. Por fim, o presente estudo é um incentivo na busca de entendimento e reconhecimento acerca de uma prática imersa na memória cultural de um povo que carrega tradições seculares, manifestadas através da oralidade e pela coletividade e que tem ainda muitos aspectos a serem pesquisados.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Letras. Departamento de Letras, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Cura, Cultura poupular, Sociolinguística Internacional
Citação
CELINA, Celina Gontijo. A prática da benzedeira : memória e tradição oral em terras mineiras. 2018. 169 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2018.