História natural da leishmaniose visceral em hamster “Mesocricetus auratus” experimentalmente infectados por duas cepas de Leishmania infantum com perfis distintos de virulência e patogenicidade.

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2012
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Resumo
A leishmaniose visceral humana (LVH) é a mais temida e devastadora dentre as várias formas clínicas das leishmanioses. Esta doença negligenciada, tem ganhando grande importância devido as altas taxas de mortalidade. A espécie do parasito, imunidade, características genéticas e estado nutricional do hospedeiro desempenham papel crucial no desenvolvimento espectral das formas clínicas, podendo evoluir de uma infecção assintomática inaparente para uma forma clínica letal, em casos extremos. O tratamento quimioterápico, não é suficiente para controlar e deter a LVH em todo mundo. Um agravante importante, é a ausência de uma vacina que possa ser empregada em programas de controle da LV. Portanto, o desenvolvimento de novas estratégias profiláticas e terapêuticas contra a LV se faz necessário e urgente. Muitos modelos animais experimentais, como roedores e primatas não humanos ja foram avaliados, cada um apresentando características específicas, sendo que nenhum destes, reproduz com precisão o que acontece na LV humana e canina. Neste contexto, no presente estudo, o modelo hamster (Mesocricetus auratus) foi usado, e os animais foram divididos em dois grandes grupos experimentais: um grupo infectado com a cepa padrão da OMS (MHOM/BR/74/PP75; n=120) e outro infectado com a cepa selvagem (n=120) de L. infantum, além de um grupo controle não infectado (C; n=80). Estes dois grandes grupos foram subdivididos em três subgrupos referentes às vias de inóculo utilizada: intradérmica (ID), intracardíaca (IC) e intraperitoneal (IP). Os animais foram avaliados durante nove meses após a infecção para a análise da sobrevida. Para cada tempo, dez animais/grupo foram avaliados. Amostras de sangue, soro, fragmentos de fígado e baço foram colhidos para realização de diferentes análises laboratoriais. As características clinicopatológicas, hematológicas, o perfil bioquímico da função renal e hepática além do quadro histopatológico foram alvos deste trabalho. Além disso, foram utilizadas abordagens moleculares empregando a PCR em tempo real quantitativa (qPCR e qRT-PCR) para determinar a carga parasitária no fígado e baço, bem como, para avaliar a expressão de citocinas no baço, respectivamente. Nossos principais resultados revelaram o aparecimento de sinais clínicos e a presença de biomarcadores laboratoriais típicos em ambas as cepas empregadas. No entanto, de um modo em geral, a cepa selvagem foi capaz de induzir doença grave, com evolução fatal principalmente nos hamsters inoculados pela via IC. As principais alterações hematológicas encontradas em hamsters que evoluíram para infecção ativa da LV foram: anemia, leucopenia acompanhada de neutropenia, linfopenia, e em alguns casos monocitopenia e eosinopenia. Os parâmetros bioquímicos relacionados à avaliação da função renal mostraram elevação de uréia e creatinina em ambas às cepas utilizadas. Já em relação à função hepática observou-se elevação nos níveis de ALT e AST nos diferentes grupos e tempos avaliados. No compartimento hepático, observou-se a instalação de processo inflamatório nos espaços-porta com a evolução da infecção, acompanhada pela formação de granulomas, com maior frequência e intensidade no grupo IC. A hipoplasia dos folículos linfóides, associada à proliferação de macrófagos da polpa vermelha, destruição da arquitetura esplênica foram mais evidentes no grupo IC, por apresentar maior gravidade da doença. A qPCR mostrou-se sensível na detecção do DNA de L. infantum tanto no fígado como no baço, em todos os grupos experimentais independente da cepa utilizada e do período de avaliação. Como observado na análise do índice de LDU o qPCR também evidenciou maior parasitismo no fígado e baço principalmente nos animais infectados com a cepa selvagem, pela via IC. Além disso, foi verificado forte correlação entre parasitismo tecidual e produção de anticopos anti-IgG. A predominância da expressão de mRNA para IFN-, nos animais infectados com a cepa PP75 no fim do período de avaliação no grupo IC, sugere maior expressão desta citocina em resposta à replicação parasitária, induzindo um perfil inflamatório concomitante e intenso. A resposta imune observada em hamsters infectados com a cepa selvagem pela via IC durante o período inicial (3 meses) foi relacionada com a expressão aumentada de IL-10 e TGF-. Este fenômeno parece suprimir estes animais permitindo o estabelecimento da infecção ativa bem como a proliferação do parasito no baço. Neste sentido, a inoculação por via IC é rapidamente seguida pela proliferação de parasitos, exibindo sinais clínicos típicos da LV semelhantes aos observados em seres humanos e/ou cães naturalmente infectados. Os resultados obtidos no presente estudo, sugerem o uso de hamsters como modelo experimental para avaliar os aspectos imunopatológicos durante o curso da LV ativa. Além disto, considerando que os hamsters experimentalmente infectados apresentaram muitas das características clínicas e imunopatológicas como observado na LVH e LVC, este modelo experimental é altamente relevante em avaliações pré-clínicas de potenciais drogas leishmanicidas e vacinas.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas. Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas, Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós Graduação, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Leishmaniose visceral, Leishmania - estudos experimentais, Hamster como animal de laboratório, Baço, Fígado
Citação
MOREIRA, N. das D. História natural da leishmaniose visceral em hamster “Mesocricetus auratus” experimentalmente infectados por duas cepas de Leishmania infantum com perfis distintos de virulência e patogenicidade. 2012. 145 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) - Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2012.