Plantas úteis em comunidades urbanas : a importância das espécies exóticas e do gênero na manutenção do conhecimento e uso dos recursos vegetais.
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Data
2016
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Resumo
Este estudo pretendeu compreender como fatores sociais, culturais, econômicos e ecológicos modelam a escolha de espécies úteis de uma comunidade. Primeiramente avaliou-se como o comportamento social nos diferentes gêneros modela a diversidade de espécies úteis conhecidas. E ainda, analisou-se se os diferentes gêneros e o grau de proximidade do centro urbano afetariam a escolha de espécies nativas e exóticas para compor o elenco de plantas úteis. Analisou-se também se as espécies exóticas ocupariam funções utilitárias não existentes no elenco das espécies medicinais nativas. Este estudo foi desenvolvido em Ouro Preto, cidade patrimônio mundial, reconhecida também pelo valioso patrimônio cultural, o qual inclui o saber popular sobre as plantas oriundos da mistura dos povos nativos indígenas e de imigrantes africanos e europeus. Analisou-se o saber popular de especialistas populares de duas comunidades urbanas desse município, próximas a APA Estadual da Cachoeira das Andorinhas e Parque Natural Municipal Arqueológico do Morro da Queimada. Foi utilizada a técnica “bola de neve” (Snow ball) para a seleção dos especialistas locais em plantas. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e turnês guiadas para identificação e coleta de material botânico. As entrevistas semiestruturadas envolveram aspectos socioeconômicos dos entrevistados e do saber sobre as plantas úteis nas diversas categorias de usos. Para verificar se a riqueza de plantas úteis conhecidas é estatisticamente diferente entre homens e mulheres utilizou-se o teste Qui-quadrado. Utilizou-se o Teste G de Williams para analisar se a riqueza de espécies é significativamente diferente entre gêneros, em relação às diferentes categorias de uso de plantas. Para comparação de padrões de diversidade de plantas úteis conhecidas por homens e mulheres foram ajustadas curvas de acumulação de espécies para cada gênero (masculino e feminino) utilizando-se do método de rarefação. As equações obtidas foram linearizadas e os modelos lineares obtidos para cada gênero e foram comparados pelo método de identidade de modelos para verificar a existência de diferenças entre os interceptos (diversidade α) e de inclinação (diversidade β). As doenças tratadas com plantas citadas foram categorizadas pela CID10 (Código internacional de doenças). Para testar a hipótese da diversificação, verificando se o uso medicinal de espécies exóticas e nativas é ou não similar, utilizou-se a Análise de Similaridades – ANOSIM. Para verificar se a distância do centro urbano existente nas duas comunidades, assim como o gênero dos entrevistados influenciava na proporção de espécies nativas e exóticas citadas utilizou-se o teste de Qui-quadrado. Foram entrevistados 52 pessoas, sendo 35 mulheres e 17 homens. Identificou-se 293 espécies de plantas úteis, reunidas em 86 famílias, distribuídas em 13 categorias de uso (alimentício, combustível, corante, cosmético, forragem, importância ecológica, madeireiro, medicinal, místico, ornamental, tecnológico, tóxica e veterinário). A riqueza de espécies conhecidas por homens e mulheres não diferiu estatisticamente. Também não houve diferença significativa na riqueza de espécies entre os gêneros nas diferentes categorias .de uso. Embora não tenham sido observadas diferenças significativas entre a riqueza de espécies citadas por homens e mulheres, foi verificado maior diversidade β dentro do universo masculino que conhece e maneja as plantas úteis. Estes resultados sugerem que há menor compartilhamento de informações entre os homens, levando a uma maior heterogeneidade entre o repertório de plantas úteis conhecidas por cada indivíduo. Em contrapartida, o hábito de partilhar informações entre as mulheres, resulta em uma maior homogeneidade no elenco de espécies conhecidas. Em relação ao uso medicinal, foram identificadas 206 espécies de plantas medicinais (93 nativas e 113 exóticas). Os resultados apontam uma grande diversidade de espécies medicinais de diferentes origens, sobretudo exóticas. Foram citadas espécies para o tratamento de 18 categorias de doenças, das 21 categorias existentes na CID 10. Espécies exóticas são indicadas para diversas categorias de doenças, inclusive aquelas em que há citações de espécies nativas. Dessa forma não se confirmou a hipótese da diversificação, em que as plantas exóticas tenham sido incorporadas às farmacopeias locais para suprir lacunas existentes no elenco de plantas medicinais nativas. A distância do centro urbano, assim como o gênero também não influenciaram significativamente na proporção de espécies citadas das diferentes origens. No entanto, a redundância utilitária observada mostra importância no aspecto da conservação, pela redução da pressão de uso sobre as espécies nativas e ainda, contribui para a resiliência e manutenção do saber popular do tratamento com base em plantas.
Descrição
Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Biomas Tropicais. Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente, Instituto de Ciências Exatas e Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto.
Palavras-chave
Agrobiodiversidade, Desenvolvimento urbano sustentável, Etnobotânica, Conhecimento e aprendizagem
Citação
GUIMARÃES, Mariana Fernandes Monteiro. Plantas úteis em comunidades urbanas: a importância das espécies exóticas e do gênero na manutenção do conhecimento e uso dos recursos vegetais. 2016. 109 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia de Biomas Tropicais) - Instituto de Ciências Exatas e Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2016.